sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sonetos para a alma sorrir feliz!





     Espelho

Serei eu o vulto em minha frente
a olhar-me assim numa visão exata
que nunca me viu no inconsciente
em mim vivendo por longa data?

Será o sol ou será minha mente
esse outro eu que o nada retrata
de luz clara, pele rescendente
e por dentro é ouro e por fora é lata?

Vejo-me... Outro eu fora de mim!
Nos olhamos no mesmo momento
e nos movemos num só movimento.

Para onde vou? O mundo não tem fim!
Vou deixar-me, ouvir o seu conselho
e sermos um só dentro do espelho!




     Casa Vazia

Casa vazia, tábuas na janela,
o resto do passado na soleira.
Telhas caídas, traços de goteira
gravando no piso “Adeus Gabriela”...

Um vento frio batia na cancela
e cantava pelos vãos da madeira
velha, o dia todo, a noite inteira,
suave “Adeus Gabriela”, “Adeus Gabriela”...

O tempo jamais, mas quem ama espera!
Qual a brisa nas ondas que se movem
no meu corpo o amor é sempre jovem.

Se foi, de mim e do amor que lhe dera!
-Ó Deus me diz à Sua voz,  por Gabriela,
 se é meu o amor que há dentro dela?





     Alvorecer

Alvorece. Mar plano, manhã fria,
bruma vestindo a praia escura.
Onde estavas quando a lua dormia
ó astro-rei no ermo sem fundura?

Se faz tão clara a luz que te alumia
nos olhos um quadro sem moldura.
Abre-te, mostra o céu de um novo dia
que outro céu no mar se transfigura!

No espaço o sol, nuvens algumas,
vêem de cima, embaixo o mundo,
o mar sem ondas, ondas sem espumas...

Brisa, leva as ondas pra onde vais
e as naus partindo ao mar profundo
hão de voltar sempre ao mesmo cais!





     Grafite

Vou pichar teu rosto na cidade
tingir de azul o indefectível breu
dizer-te coisas que a mocidade
sabe que é amor, mas jamais viveu.

Vou revelar-te, que na verdade,
meu amor no tempo nunca se perdeu
e para gravá-lo na eternidade
picho o teu nome ao lado do meu.

Paredes brancas, ruas negras, baldias,
entre as cores do spray, passo dias
moldando tua imagem, luz no apogeu.

As tintas do arco-íris, hei de tê-las,
e em letras garrafais, nas estrelas,
direi ao mundo quem mais te amou: Eu!





     Soneto das ilusões

Onde estás? Horas mortas, frias,
tua imagem procuro no meu peito.
Um poeta não tem noites, não tem dias,
sonha nos céus, nas nuvens faz o leito...

Onde estás? longe? que tens feito?
Em que corpo estão tuas mãos macias?
Fiz-me poeta! Sei, não sou perfeito,
vivo cheio de ilusões vazias...

Volta! Não há ninguém no teu espaço.
Diz um nome feio que é mais bonito
o silêncio fere mais que um grito.

Sou poeta, embaixo vai um traço!
E para que voltes, em branco e preto,
te grito o meu amor neste soneto!

     Inácio Dantas
     Do livro (c) Sombras e Luzes

     Temas relacionados (Sonetos):

     Temas complementares:

Nenhum comentário:

Postar um comentário