domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sonetos para "curtir" um novo tempo.




          Ele Vive

Sorria! O céu ainda está no seu lugar
e Aquele que o habita te conduz.
Entre o sol e as estrelas, eis o Seu lar,
lá, vive desde Sua morte na cruz.

Ele é o Verbo: Sua palavra seduz,
Hás de encontrá-Lo no teu procurar.
No teu crânio guarda o nome: Jesus.
Ele vive se estiver no teu pensar.

Quem teria dois mil anos de história
sangue e lágrimas unidas pela fé
se não fosse Ele filho de quem é?

Só o Seu reino tem beleza e glória!
Jóias, castelos... não valem isto
que está na mão direita de Cristo!





        Loucura...

Te dou meu amor, talvez não o mais lindo,
e haverá mais lindo por ventura?
Fruto colhido da haste mais pura
paixão que no peito se foi abrindo.

Dou-me, mar do desejo, infindo
bebe-o no cálice da ternura.
É néctar a seiva quando se mistura
acre perfume dos corpos se unindo.

É tudo o que tenho, o amor, nada mais.
Tem-lo por mim! O resto? Que importa
se a alegria entrar por essa porta?

Ponho-me a cantar - tristeza jamais –
solto a voz, desato a minha boca,
dançando feito uma pessoa louca!





     Soneto breve

É teu este poema, e alguns segredos,
em rimas colhidas de um hinário.
Escrevo-o com a alma, não os dedos,
faço nele o meu vôo solitário.

Sou o teu poeta! Morram os teus medos
e o mundo de ilusão no teu diário.
Trago a luz, qual sol nos arvoredos,
ao dia que se abre no calendário.

Vim de longe, veloz feito uma ave,
no seu dorso ágil, meu trotar suave,
ungir de amor o peito de quem sofre.

E te encontro nas ruas do meu verso
duas metades do mesmo universo
duas rimas na mesma estrofe!





            Erro

Perdoe-me, errei. Um erro assim, desmedido.
Julguei na emoção e sentenciei a razão.
Não é o que sou o que lhe tenho sido
quem lhe fui de mim foi uma visão

um fragmento, o avesso desconhecido,
salas escuras da imaginação.
Apague a marca do seu peito ferido
Deus fez o erro, mas também fez o perdão!

Não tem alicerce o muro dos enganos.
Ele é frágil, sem tijolos nem cimento,
é uma obra morta do pensamento.

Não mais errar incluo nos meus planos!
-Levante-se e espalme a mão no ar
aquele que não errou querendo acertar!





  
      Soneto para um ex-amor
             Despedida

Adeus... Deixo aqui minha história,
a lágrima caída, o riso que não veio.
Levo o mar dos teus olhos na memória
e o sol que havia no abrigo do teu seio.

Vou-me, coração partido ao meio,
do amor perdido na luta inglória.
No amor, ser derrotado não é feio,
na vida só há conquista na vitória.

Vejo-te, mas não vês minha passagem,
digo adeus, teus lábios não dizem nada,
levo-te em mim na minha jornada.

Sigo, um corpo imerso na paisagem,
lá atrás um mundo – céu claro adiante –,
fecho as mãos e colho a flor do instante...!





  
       Testamento

Ó ondas do querer, mar do desejo,
águas turvas na intensa claridade,
Tua boca d’espumas dá-me um beijo
num gosto de ilusão e de saudade.

Há um mar no horizonte do meu pejo,
lá ao longe, sob o sol da eternidade.
Preso entre as tuas mãos eu vejo
numa o amor, na outra a liberdade.

Livre. Na masmorra da incerteza,
folha solta no fio da correnteza,
sozinha nos sete mares vagueia...

Ah o amor! – Leva-me qual maré alta
e deixo, aos que sentem minha falta,
meu testamento escrito na areia!





          Pedaços

Em ti eu encontro minha parte
pedaço de mim desconhecido;
Esse eu que vive em ti tem arte
não é o mesmo eu que tenho sido.

O ser que fez em ti seu estandarte
sou eu, no meu corpo esquecido.
Vive em ti na ilusão de amar-te
outro eu dentro de mim saído...

Agora, só em ti é que eu me vejo.
Sou uma sombra feita num desenho
dando-me um mundo que não tenho.

És tudo, nada, apenas um desejo.
Vou-me nessa paixão - e comigo levo-a -
e o meu sonho se desfaz em névoa...





             Cicatriz

Teu amor do meu ser vou arrancá-lo
lá do fundo do meu peito infeliz.
Insepulto, folhas mortas no talo,
flores mortas, pois é morta a raiz.

Atiro-o longe, no fundo desse valo,
(o sentimento) e cubro-o com a cicatriz.
E não ousem esse amor ressuscitá-lo
dei-lhe muito pelo pouco que me quis.

É a paixão a grande sensação da vida
e se tiver preço, é tão grande o valor,
que só se paga com a moeda do amor.

Fecho-me em mim, abro a velha ferida,
e vem a saudade buscar, a todo momento,
tua lembrança no meu esquecimento...





        Relógio do tempo

Jamais o tempo que passa e não para
e põe num vazio o instante perdido
há de negar-nos por termos vivido.
o ódio, o amor e as rugas na cara.

Nascer, morrer... tudo faz sentido
a dança da vida é beleza rara.
À lei do cosmos nada se compara:
tudo é feito do mesmo tecido.

A vida não é um sonho que desfaz-se
nem um corpo pálido, sem glória,
dentro de um espírito sem face;

Viver é breve tempo, o compasso
das horas, relógio sem memória,
um brilho girando no espaço!





         Conflito

Se já me tens, que tanto procuras,
nos meus braços, olhos no infinito?
Em mim tem luz, lá, ruas escuras
e um mundo vivendo em conflito.

Se somos um, e tantas as amarguras,
não foi por Deus nosso amor escrito.
Dizes, sem notar, palavras duras
num sentimento que me põe aflito.

É teu meu sorriso se estás triste,
mesmo se revelas, sendo real,
que idealizei um ser que não existe.

Priva-te do meu amor que não é ruim.
Mas, se te volver a saudade fatal,
fala de outro ao pensar em mim!






           Essência

Eis-me aqui e a vida que me resta,
carne e ossos nessa estrutura
feita de matéria que não presta
que depois de morta não tem cura.

Tudo em mim a vida me empresta,
sorvo a luz, como o pão da amargura.
Dentro desse véu é tudo uma festa
amanhã, me espera a sepultura.

Fica no amor traços de uma vida.
O amor ficou em minha existência
só me vou quando for em despedida...

Eis-me aqui e o que resta do meu ser:
da felicidade, a sublime essência,
foi um sol dando luz ao meu viver!

     Inácio Dantas
 (do livro ® “Sombras e Luzes

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