sábado, 26 de novembro de 2011

Sonetos para reflexões da mente e do coração




         Vida bandida

Pra que ter grana e vida desonesta
conquistar o mundo sem vencer batalha
ter vaidade e luxo, ser o rei da festa,
desfazer do pouco de quem trabalha?

Pra que viver entre a cruz e a navalha
progredir sem verter suor da testa
deixar rastros, igual vírus que s´espalha,
ter poder e se prestar ao que não presta?

Pra que rezar, mãos no terço e na erva?
Quem planta o bem colhe flores e carinhos
quem planta o mal, coroa de espinhos.

Quem amanhã o calor do seio lhe reserva?
Ninguém! Viverá só, vagando a esmo
no chão frio da masmorra de si mesmo!





           Maldade

A ferida da maldade não tem cura
quando se abre exala odor e sangramento
brota na alma feito água impura,
cai pela face em triste lamento.

A voz da maldade é fria, sem textura,
punhal que fere fundo o sentimento
em tom suave e palavra dura
ecoa nos ouvidos qual tiro ao vento.

O avesso da bondade não tem cor
é uma porta que se abre pro vazio
noite em breu sob um outono frio.

O gesto da maldade é falso, sem amor:
-Mas, pra todo mal um bem é o perdão
se pelos lábios vem do coração!




      Por um amor

Por um grande amor uma grande emoção
por um amor se faz todo sacrifício:
voar sem asas no azul da imensidão
uma queda do mais alto precipício...

Não muito é nada por essa sensação
tanto mais valor quanto mais difícil.
É triste ser só, um trem sem estação
que não tem chegada por não ter início.

Por um amor o tempo para um instante
e sem força o mundo gira no espaço
como se o amor tivesse mãos de aço.

Por um amor a flecha arde flamejante.
Vai, entre milhões, um átimo qualquer,
pôr a vida no ventre de uma mulher...






        Conduta Leal

Não se faça major sendo recruta
nem grande mestre sendo um pupilo.
Não diga, sem ter nada, ter isso e aquilo
mas, tenha tudo com esforço e luta.

Ninguém ergue castelos sem labuta
cada qual semeia o grão ao seu estilo
e não diga não ter amor por não senti-lo:
ele vive, e tanto diz quanto escuta.

Faça do seu equilíbrio a mão que acalma
e não derrame sua ira por questões poucas
nem arrisque corpo e alma em coisas loucas.

Seja leal  – Pão que alimenta  a alma –.
E não seja entre iguais um ser estranho
e nem queira ser maior que o seu tamanho!





     Ela vem...

A morte é exemplo vivo que não falha
não tem véspera esse acontecimento;
ela vem, ceifando tudo igual navalha
e leva embora feito pó ao vento...

Ela vem fatal, os tentáclos espalha
tirando de quem sofre o sofrimento;
mas, leva a juventude na mortalha
e aos vermes vai servir de alimento.

Ela vem assim... voz tartárea, olhar jacente,
ora calma, ora bramindo nas tormentas,
cospe raios, fogo assopra pelas ventas...

Ela vem e deixa vazia a alma da gente:
Vai, qual filho na barriga materna,
nos preparando para a vida eterna!






         Riso

Ria. Ria agora e sempre, ria numa boa.
Ria de alegria ou pra espantar o tédio.
Ria pra si mesmo, pra qualquer pessoa,
ria que sorrir é um santo remédio.

Ria só por rir. Gargalhe. Ria à toa,
pois o riso quando vem ninguém impede-o.
Afrouxe a língua, deixe que o riso ecoa
e todos vão sorrir por seu intermédio.

Ria. A alma que ri a boca não chora.
Tenha sempre um riso no seu rosto
que o bicho da tristeza vai embora.

Ria e apague as tristes desventuras.
Quem não trocar pelo riso o desgosto
vai viver bebendo o fel das amarguras...

     Inácio Dantas
     Do livro “Janela para o Mar

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