quarta-feira, 29 de junho de 2011

Poema caipira “Eta fuminho bão...”




Um almofadinha da cidade foi passeá no interior
de ray-ban, carro do ano e falando igual doutor;
entrou numa fazenda e parou numa palhoça
onde tinham dois caipiras capinando uma roça.

Cumprimentou os dois com um jeito arrogante
os caipiras responderam com um gesto elegante;
abriu a porta do carro, som no último volume,
de sapato novo, pisou num monte d’estrume

Um caipira olhou pro outro, e falou com gozação:
Cumpadre sartei de banda, êta fuminho bão...

O almofadinha avexado começou a se limpar
enquanto os dois caipiras morriam de gargalhar;
ele olhou em volta, toda aquela plantação,
e falou com voz de bravo “quero falar com o patrão”!

Tinha pose de bacana, parecia ter dinheiro
todo homem da cidade sonha em ser fazendeiro;
olhou para uma égua e perguntou se era cavalo
se o ganso era pato e se o marreco era galo... 

Um caipira olhou pro outro, e falou com gozação:
Cumpadre sartei de banda, êta fuminho bão...
 
Os dois caipiras cochichavam daquela situação
Esse aí não sabe nada de bicho ou plantação...
Quem é o senhor?, o almofadinha ficou mudo,
nós mesmo é o patrão, somos o dono de tudo.

Ele olhou pros dois matutos, começou a gaguejar,
se quiser vender as terras, diz o preço, vou comprar.
Se a gente for vender o preço é um milhão,
Então eu compro tudo e pago a prestação.

Um caipira olhou pro outro, e falou com gozação:
Cumpadre sartei de banda, êta fuminho bão...

Pensando bem seu moço, a gente não quer vender,
nóis é aqui da roça, na roça vâmu morrer;
viver lá na cidade é suplício e ilusão
aqui é o nosso lar, pedaço do coração.

O almofadinha triste, tinha perdido o jogo,
ganhou os dois caipira que não eram nenhum bobo;
ligou o motor do carro e fez o pneu rodar,
Saiu pela porteira levantando pó no ar...

     Inácio Dantas
     Copyright (c)

sábado, 25 de junho de 2011

Poema “Eu e o Sabiá”




Num galho da laranjeira, sabiá fez o seu ninho
na árvore mais alta, no meio do pomar
olhando todo dia o vai-e-vem do passarinho
também com muito esforço eu construí meu lar.

Enquanto o sabiá usava o seu biquinho
com meus braços fortes levantava as paredes
à noite, já cansado ele dormia sozinho
e eu também dormia, sozinho numa rede.

Sabiá, Sabiá
quanto sofrimento e dor
sabiá, sabiá
eu também sofro de amor.

Bem cedo de manhã, antes do sol despertar
seu gorjear abria as portas da imensidão
cantava na janela até eu levantar
parece que entendia a minha solidão...

O tempo foi passando, terminei a minha casa
pintei toda de branco, portas de azul-marinho 
no entanto o sabiá não batia suas asas
porque tinha alguém dividindo o seu ninho...

Sabiá, Sabiá
Quanto sofrimento e dor
Sabiá, sabiá
Eu também sofro de amor.

Fui ver o meu amigo o que tinha acontecido
e era tanta festa no alto da laranjeira
dois novos sabiás ali tinham nascido
agora tinha filhos e uma bela companheira.

Igual o sabiá encontrei minha amada
e também vivo feliz meu amor ao lado dela
agora todo dia quando é de madrugada
feliz o sabiá gorjeia na minha janela

Sabiá, sabiá
Sofrimento acabou
Sabiá, sabiá 
Como é bom ter um amor!

     Inácio Dantas

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Poema para Gabriela.



Bateu cinco horas, o galo logo vai cantar
detrás da montanha, o sol começa a brilhar.
Tomo um café quente, como um restolho de pão
saio pro trabalho, oito alqueires de plantação

Dou um assovio, chamo Valente, um cão trigueiro,
bom caçador, fiel companheiro.
Dou ração pros bichos, arreio meu alazão
tenho tudo aqui, mas vive só o meu coração.

Pego o estradão, vou galopando na imensidade
lembro de alguém que ficou lá na cidade.
Ouço a brisa mansa, e o rangido na cancela
repetindo seu nome, Gabriela, Gabriela...

Vejo o campo verde, e o meu roçado em flor
sinto um perfume, lembro do meu amor.
A paixão é forte, como o vento no temporal,
e meus olhos choram no meio do milharal.

Vida de caboclo, é roça, bicho e plantação
a dor é doída pra quem vive a solidão.
Preciso casar, ter aquela que eu sempre quis,
quem vive sozinho, nesse mundo não é feliz.

Final de semana, vou passear lá na cidade
rever a morena, matar esta saudade.
Minha alma canta quando estou ao lado dela
repetindo seu nome, Gabriela, Gabriela...

Meus dias são frios, as noites sem calor
até os sabiás se recolhem para o amor.
Quero ela comigo, pra enfeitar a minha roça
crianças correndo, pra alegrar minha palhoça.

Quem ama a terra, nasce e morre nessa lida
plantando a semente e colhendo a comida
Tem o braço forte e o orgulho varonil
trabalhando forte pra grandeza do Brasil.

Vou me declarar, renovar a esperança,
Levá-la pro altar, já comprei as alianças,
sou um caboclo feliz, nos braços dessa donzela
-Vou te amar pra sempre, Gabriela, Gabriela...

     Inácio Dantas

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Obs. Se você quiser musicar esse Poema, me escreva.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Seis sonetos para uma noite de outono.




     Crepúsculo no campo

...O vento faz contorno nos pinheiros
e entra entre os galhos sem quebrá-los;
se espantam os bichos sorrateiros
corre bravio um bando de cavalos...

As flores se retorcem nos canteiros,
qual asas brancas revoam nos seus talos;
dos vales se alevantam nevoeiros
e o vento a outras plagas vai levá-los...

A tarde desmaia na fria solidão.
O chão em trevas faz da lua seu bordão
qual tintas claras numa tela suja...

Lá dos longes vem a noite, é outono,
a mata dorme no leito do abandono
coaxam as rãs,  pia triste uma coruja...






               Incerteza

Diz o teu querer que não me quer jamais
e o que havia ainda por dizer, disse-o.
Mas, como deixar-te se és o meu vício
se o prazer que tenho é teu amor quem faz?

Visto a cara do ódio, é só artifício,
um pouco do teu amor já é amor de mais.
Sigo por mim - a direção é a que vais –
na boca o sorriso, na voz o suplício

desse amor que me é tudo e a ti é nada.
Digo a mim mesmo em palavras tais,
embora unidos, laços desiguais,

não mate esta vida que me é dada:
Põe a alegria que caiba no teu rosto
e me ame, mesmo que seja a contragosto...





        A friend

No meu peito tem um lar, doce abrigo,
onde hospedo nobres sentimentos,
onde não mais é só quem está comigo
onde não há pranto nem tristes lamentos.

Aqui o tempo é a vida em fragmentos
a explosão dos átomos não tem perigo,
se falo bem, espalho a quatro ventos
e no meu peito te hasteio o nome: amigo.

Eis o meu lar, colunas do bem querer,
porta sem trinco pra sinceridade
onde o sol reluz ao alvorecer.

Fechado, nessa nave que dirijo,
para todo o sempre levo a amizade
até o meu inexpugnável esconderijo!






         Lembranças

Quando à meia luz sua foto revejo,
folheando o álbum já esmaecido,
relembro do olhar, do abraço, do beijo,
creio que jamais lhe hei esquecido.

Ter seu querer para sempre almejo
duas aves em vôo num campo florido;
sua imagem aqui deixei no meu desejo
o resto lá ficou no tempo perdido...

Qual o flanar suave das ondas do mar
que buscam o aconchego no granito,
meus lábios buscam, num doce vagar,

o aconchego da sua boca macia...
Mas, hoje, em soluços eu choro aflito
e se rides feliz sob a lápide fria...





       Voz divina

“O reino dos céus Eu lhe darei!”
Bradou uma voz lá das alturas.
“Prove a hóstia das escrituras
e segue o que diz a Minha lei.”

“Quebre o cálice das amarguras,
abre sua alma ao Novo Rei;
O sangue que na cruz Eu derramei
é luz eterna nas noites escuras.”

Hoje me encontro no Teu nome,
no meu peito fiz Tua guarida
e em mim sinto viver a Tua vida.

Dá o pão do amor à minha fome,
teu amor é novo, meu corpo velho,
eis aqui o meu reino: o Evangelho!





          Canção

Maestro, ostenta no ar a batuta
qual a brisa na pétala de uma flor.
Doma com desvelo tua força bruta
e rege solene uma canção de amor.

Fere indelével quem te escuta
teus acordes no ar têm forma e cor.
Se o mundo lá fora é poeira e luta
aqui dentro da alma é paz e calor.

Vale mais um riso do que mil prantos
vale mais uma lira do que um canhão,
a música cria sua própria dimensão.

Esparze tua obra pelos quatro cantos
e deixa não morrer a vida do teu dom:
-O coração compassa no mesmo tom!

      Inácio Dantas
      Do livro © “Sonetos para Sempre

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sonetos para amar em novas dimensões




          Zilda
    (Reconciliação)

Se eu te dissesse isso que me dizes
quanta tolice ias ouvir calada;
se os grandes amores vivem suas crises
tudo eu te ouço e não digo nada.

Em cada frase um fio de espada
me faz sangrar sem  deixar cicatrizes;
vejo tua raiva, penso dar risada
pois até brigando nós somos felizes.

Somos a mistura de pólvora e fogo
que se atrai pelas chamas da paixão
e se propaga sob risco d´explosão...

Vivemos desafios, um grande jogo,
numa plêiade de ternura e fervor
entre gotas de ódio e oceanos de amor...






         Telma
       (Ilações)

Dizes, em pranto, que ainda sou teu
que d’árvore do amor sou fruto bendito
que homem no mundo quem existe sou eu
e que eu sou o teu sol no céu infinito.

Dizes, sorrindo, que teu corpo é meu
e que se eu quiser me dás por escrito.
Creio em ti como em anjo um ateu
pode mentir, vou fingir que acredito...

Dizes as coisas que quero ouvir.
Tua voz  s’espalha poluindo o ar
quem muito diz pouco tem pra escutar.

E assim, cansado de vê-la mentir
sigo pensando, olhando a imensidade:
-Ter o seu amor, quem me dera ser verdade...!





         Silvana
(O tempo nos levou em suas asas)

Foi amor fugaz que tive com Silvana
vertia coragem em forma de pejo.
Dizia não querer e quase me engana,
quando a beijava engolia o meu beijo...

Ela gemia, nos quadris tinha molejo,
o céu era meu quando eu era de Silvana.
Foi fugaz enquanto eterno o desejo
somando o tempo não foi uma semana...

Tudo que é bom, não sei, dura tão pouco,
parece que, qual obra-prima em tela,
foi um século que fiquei com ela.

Mas, perder essa mulher me deixa louco!
Sinto em mim, qual força sobre-humana,
um arrepio quando lembro de Silvana!





           Sandra
     (Voz do silêncio)

Ao estender minha mãos sob o lençol
procurando achar o teu corpo ausente
sinto vibrar, qual no céu o arrebol,
sob tuas roupas frias o lugar ainda quente.

Fugiste... E quem foge tá descontente
como um peixe preso no anzol;
ficou um grande vazio, de repente,
como se a luz se apagasse do sol.

É assim o amor, um prêmio de quem vence-o.
Eu o perdi.  Eis o silêncio ao meu lado
dizendo “que eu perdi sem ter lutado!”.

Entendo, agora, o que nos diz o silêncio
quando choramos o amor de quem nos ama
no imenso retângulo de uma cama...





             Ruth
   (Dois sentimentos)

Uma parte de mim ri, a outra chora.
Sofro, num conflito que não tem fim
sem entender por que dentro de mim
uma parte te odeia, a outra te adora.

Será, Deus meu, que devo viver assim
entre a alegria e a dor que me devora;
sofrer por dentro e ser feliz por fora
dando sangue bom pr’um corpo ruim?

Quem, quem pode ser dois num só momento
ter dois ideais dentro da própria mente
ser feliz e triste simultaneamente?

Sinto, em mim, esse duro sentimento
que me faz, num espelho de contraste,
duas flores desiguais na mesma haste.

     Inácio Dantas
Do livro © “Janela para o Mar

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