Soneto Ideal
Sonhei um mundo feito de ternura
onde a paz luzia, qual o sol no apogeu.
Eu bebia a água da verdade pura
e comia os frutos que o amor me deu.
Sonhei um mundo feito de aventura,
eu era o mundo, o mundo era eu;
Vi o meu presente numa luz futura,
o meu passado dentro dum museu.
Vi a força do bem destruir o mal
gentes entranhas, num abraço irmão,
a vida nascendo do funéreo chão.
Mas vi a morte, como todo mortal,
e despertei, na mais louca ansiedade:
-Ver o mundo dos meus sonhos realidade!
Fênix
Por que ris se me desata o pranto
e dizes que é coisa que eu invento.
Por que na face trazes um encanto
se também sofres c’o meu sofrimento?!
Tiro da tristeza o fel do meu canto,
finjo, ébrio de ciúmes, não ser ciumento.
E para te provar que te amo tanto
uso minhas lágrimas como argumento...
Teu amor por mim é Fênix, não morreu,
vive latente no imo do teu ser,
das cinzas pode ainda renascer.
Mentes que já tens um amor igual ao meu.
-Antes a morte minha vida levá-la
a saber que outro comigo se iguala!
Forget...
Me lembro ainda que nos braços tive-a,
o retângulo da cama, o quarto em ele,
a noite batendo lá fora, a lua nívea
banhando pelos vitrais a nossa pele...
Só não lembro seu nome... Telma, Lívia,
Carla, Ana Rosa, Lia... ou seria Adele?
Me mordia o beijo, gosto de lascívia,
fogo do amor que o desejo impele...
Lembro do calor quando ia abraçá-la,
em mim seus braços, qual duas correntes,
na flor da carne a marca dos seus dentes...
Mas, lembro o silêncio ao fechar a sala.
Partiu, levou meu vulto nos olhos seus,
seu corpo, meu paraíso... Adeus, amor, adeus...
Cavalgada...
Tem um pouco de mim no teu prazer
que te põe no céu quando te invade
e a ti me dou, com tal intensidade,
que o que me sobra é só o meu viver.
Se sou louco, canto a glória de o ser
pois o vírus do amor dá insanidade.
Sou eu, milhões, toda a humanidade
plantando a semente que nos fez nascer!
Faço novas velhas formas de amar
e enquanto cai a fleuma da vaidade
vou domando a fera da tua vontade:
laço-me em ti, num ato singular,
e cavalgo, qual um peão de rodeio,
amando o teu corpo como jamais amei-o...
Velas ao mar...
Fortaleza (CE) 28/7/00
Pescador, molhe a vela da jangada,
asa ao vento, uma ave solta no mar;
cruze ondas no céu da madrugada
jogue a rede, pão das águas vem pescar.
O céu desponta, florão d’alvorada,
ergue-se e imobilia-se no ar;
jangadeiro vai ao longo da enseada
navegando... e o mundo a navegar...
Ouça a voz do mar, olhe ´ste céu bonito,
gaivotas revoando n´amplidão
pintando a paisagem do infinito.
Ice a rede, dê sorrisos ao teu peixe,
cante pra espantar a solidão:
-Mar, não me leve... Terra, não me deixe...
Inácio Dantas
Do livro (c) Sonetos para Sempre”
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