segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sonetos para um mundo ideal




       Soneto Ideal

Sonhei um mundo feito de ternura
onde a paz luzia, qual o sol no apogeu.
Eu bebia a água da verdade pura
e comia os frutos que o amor me deu.

Sonhei um mundo feito de aventura,
eu era o mundo, o mundo era eu;
Vi o meu presente numa luz futura,
o meu passado dentro dum museu.

Vi a força do bem destruir o mal
gentes entranhas, num abraço irmão,
a vida nascendo do funéreo chão.

Mas vi a morte, como todo mortal,
e despertei, na mais louca ansiedade:
-Ver o mundo dos meus sonhos realidade!





              Fênix

Por que ris se me desata o pranto
e dizes que é coisa que eu invento.
Por que na face trazes um encanto
se também sofres c’o meu sofrimento?!

Tiro da tristeza o fel do meu canto,
finjo, ébrio de ciúmes, não ser ciumento.
E para te provar que te amo tanto
uso minhas lágrimas como argumento...

Teu amor por mim é Fênix, não morreu,
vive latente no imo do teu ser,
das cinzas pode ainda renascer.

Mentes que já tens um amor igual ao meu.
-Antes a morte minha vida levá-la
 a saber que outro comigo se iguala!





               Forget...

Me lembro ainda que nos braços tive-a,
o retângulo da cama, o quarto em ele,
a noite batendo lá fora, a lua nívea
banhando pelos vitrais a nossa pele...

Só não lembro seu nome... Telma, Lívia,
Carla, Ana Rosa, Lia... ou seria Adele?
Me mordia o beijo, gosto de lascívia,
fogo do amor que o desejo impele...

Lembro do calor quando ia abraçá-la,
em mim seus braços, qual duas correntes,
na flor da carne a marca dos seus dentes...

Mas, lembro o silêncio ao fechar a sala.
Partiu, levou meu vulto nos olhos seus,
seu corpo, meu paraíso... Adeus, amor, adeus...





        Cavalgada...

Tem um pouco de mim no teu prazer
que te põe no céu quando te invade
e a ti me dou, com tal intensidade,
que o que me sobra é só o meu viver.

Se sou louco, canto a glória de o ser
pois o vírus do amor dá insanidade.
Sou eu, milhões, toda a humanidade
plantando a semente que nos fez nascer!

Faço novas velhas formas de amar
e enquanto cai a fleuma da vaidade
vou domando a fera da tua vontade:

laço-me em ti, num ato singular,
e cavalgo, qual um peão de rodeio,
amando o teu corpo como jamais amei-o...





             Velas ao mar...

Fortaleza (CE) 28/7/00

Pescador, molhe a vela da jangada,
asa ao vento, uma ave solta no mar;
cruze ondas no céu da madrugada
jogue a rede, pão das águas vem pescar.

O céu desponta, florão d’alvorada,
ergue-se e imobilia-se no ar;
jangadeiro vai ao longo da enseada
navegando... e o mundo a navegar...

Ouça a voz do mar, olhe ´ste céu bonito,
gaivotas revoando n´amplidão
pintando a paisagem do infinito.

Ice a rede, dê sorrisos ao teu peixe,
cante pra espantar a solidão:
-Mar, não me leve... Terra, não me deixe...   

    Inácio Dantas
    Do livro (c) Sonetos para Sempre

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