Jogo do querer
Não entregue os pontos sem jogar
dando a vitória ao seu adversário.
Pra ver brilhar a sorte arrisque no azar
pode ser certo o avesso do contrário...
Não fuja da derrota sem lutar
resignado igual Cristo no Calvário.
Nem viva no céu do ócio a lastimar
jóias perdidas num trono imaginário.
Não desista perto de rasgar a fita
quando a jornada principia o final
e ao pódio só resta um degrau.
Lute sempre. Quem quer vencer não hesita.
Una vontade e força num só processo
pois o querer abre o caminho pro sucesso!
Lembrando Fernando Pessoa
Por favor ria ao ler este soneto
mas não gargalhe, ria com educação;
ele é uma bomba, fogo no graveto,
já vem queimando desde a concepção.
Leia em bom tom, comigo faça dueto,
emposte a voz, afine a entonação;
é jóia rara a rima deste quarteto
só falta o brilho da declamação.
Leia com desvelo por questão de ética
e guarde-o na retina do seu olho calmo:
-Ler este poema é como ler um Salmo.
Me perdoe se a palavra quebrou a métrica.
Sou apenas - majestade sem coroa -,
um poeta querendo ser igual Pessoa.
Limite
A luta é árdua, o caminho espinhoso,
aos grandes desafios grandes vitórias.
Mas, a humildade é o bem mais valioso
pois fama e pódio são coisas ilusórias.
Pé na estrada, o tempo é precioso,
o mar da existência são águas transitórias.
Busque o sucesso! Néctar poderoso.
Seja o herói das suas próprias histórias.
Erga-se. O trem da vida não espera.
Perder da vida um breve instante
é jogar num abismo fundo um diamante.
Tente. Ganha lauréis quem persevera.
Não desanime. Deixe o sonho vivo,
o céu é o limite do seu objetivo!
Semente
Não espere que a chuva de janeiro
dê colheita a quem não plantou semente
e nem queira que árvores de dinheiro
deem frutos num galho reluzente.
Não queira ter nas mãos o mundo inteiro
se o pouco que tem é suficiente
nem se mate pra ser sempre o primeiro
quem tudo quer tudo perde de repente.
Não viva atrás de pompa e fantasia
nem veleje o barco em calmaria
-as ondas findam, o mar não se encerra.
E não se esqueça que a morte fatal
vai cobrir, assim como o bem cobre o mal,
toda riqueza sob uma pá de terra!
Soneto para os Jovens
O tempo é um relógio em movimento
tudo que é velho teve mocidade.
Viva com intensidade o momento
e cada momento com intensidade.
A vida é fantasia e encantamento
em cada minuto uma eternidade.
Quem semeia o ódio colhe o sofrimento
-O amor é o fruto da felicidade!
Viva o instante na sua plenitude,
não se deixe levar por ondas calmas
que seguem sem rumo no vão das almas...
Beba gota a gota a sua juventude
como líquen da vida que nos é dado:
-Horas brancas ficam mortas no passado!
Espinho
Ninguém no mundo quer viver sozinho
deitar e cobrir o corpo com a noite fria;
nem o mais indócil vive sem carinho
-a solidão é treva n’amplidão vazia.
Todos querem ter um amor, pão e vinho,
provar da paixão a rósea fantasia;
querem alguém, uma luz no seu caminho,
-a solidão é a mais triste companhia.
Cada um traz um sonho em sua mente:
Ela, dar ao homem todo amor que tiver
Ele, quer ter todo amor de uma mulher...
Ninguém vive o desamor eternamente!
Deitar, e contra o corpo estar sozinho,
é igual no coração ter um espinho.
Poema de ouro
Não quero que esse poema seja ácido
do tipo que se lê com sacrifício
feito sem métrica, desenho flácido,
sem tônica na quarta, cheio de vício.
Quero um poema tal, risonho, plácido,
que por fácil ser pareça difícil;
drenado dos versos o aminoácido
pra que não se leia o fim antes do início...
Quero o amor e o poema no mesmo pacto
que leve esperança a quem não tem
e seja a voz do coração de alguém.
Quero algo assim, que cause impacto,
c’um brilho de ouro, feito de cobre,
um poema plebeu com jeito de nobre.
Procurando-se
Todo mundo quer saúde, amor e grana
e romper o tempo num fogoso corcel.
Fugir, viver amando numa cabana,
num campo em flor pertinho do céu...
Todo mundo quer uma vida cigana
andar por aí, uma tenda ao léu.
Trocar a lua por brasões de porcelana
e água da chuva por taças de mel...
Alguns buscam a trilha que Deus lhes deu:
O sol, o mar na sua infinita beleza,
formas e vidas que compõem a natureza.
Outros querem jóias, luxo, o apogeu,
num mundo de inveja e falsidade
prisioneiros da própria liberdade!
Inácio Dantas
Do livro de sonetos (“Janela para o Mar”)
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