me dê o riso, não o fel da nostalgia;
mostra este verso, brio do meu talento,
quem fez a rima fez também a melodia.
Guardo o amor aqui dentro da poesia
e a poesia dentro do meu pensamento;
a dor do amor não resiste à alegria,
desfalece ao seu deslumbramento!
Vai poesia, só lhe resta um terceto.
Revela-se a este que lhe escreve
letras de ouro caídas sobre a neve...
Como faço amor fiz este soneto!
Me perdoa se insisto nesse tema,
o amor morre e se eterniza num poema!
Um dia no sítio
Contemplo o sol despontando na serra
por todo o sempre, como a vez primeira,
cortinas de névoa no ar descerra
nesta manhã alegre de sexta-feira.
O pássaro-preto o gorjear encerra
ao balançar o galho da laranjeira.
É o vento erguendo o cheiro da terra
e deitando suave na mata inteira.
É azul o céu, é verde o escampo!
Desperta a luz, repousa o pirilampo,
flores se abrem exalando seu perfume.
Um galo canta livre no terreiro.
Sigo, no meu passo um cão trigueiro,
entre os bichos, mijo e estrume.
Minhas horas
Minhas horas não são minhas, são de quem
faz o tempo nessa máquina gigante.
E nestas horas em que existo e sou alguém,
sou a sombra de uma luz no céu distante.
Minhas horas vêm de longe, muito além
das muralhas eternais do mundo errante.
Não sou menos e nem mais do que ninguém
eu sou apenas fragmento do instante,
sou o pó, partícula esmigalhada,
na imensidade cósmica perdida
feita de alma, pele, ossos e mais nada!
Minhas horas são um vulto num espelho
e ao ver quem me guarda minha vida
sinto o chão nas dobras do meu joelho!
Soneto da saudade
Contigo estou, do meu amor ausente,
já não sou eu quanto em ti eu penso.
Ver o teu vulto dentro da minha mente
é ver um abismo escuro e imenso,
é dor sem fim no peito de quem sente
gelo vivendo num calor intenso;
é alegria triste, riso descontente,
um corpo sem rumo no ar suspenso...
Contigo estou, vazio de emoções,
olhos ao longe estando aqui tão perto
rastros ao vento n’areia do deserto...
Contigo estou, palco de ilusões,
e vejo que em mim, à luz da verdade,
restou algo do amor... o nome é saudade!
Imagens
Em minhas mãos eu procuro as suas
e lhas encontro trêmulas de pejo;
pelo espelho nossas imagens nuas
se materializam num só desejo...
Sob os lençóis de fino cetim, duas
bocas se encontram no mesmo beijo;
nossas juras s’encontram pelas ruas
e se elevam aos céus num suave voejo...
Trilhamos as avenidas do prazer,
túneis secretos, sem nada dizer,
e mergulhamos num profundo torpor...
Firo o véu desse corpo imaculado,
nele ficam as marcas do pecado,
e no ar o perfume do nosso amor...
Inácio Dantas
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