domingo, 27 de março de 2011

Sonetos de amor, vida e luz.




             Auto-soneto

Vai poesia, diz o meu amor nesse momento,
me dê o riso, não o fel da nostalgia;
mostra este verso, brio do meu talento,
quem fez a rima fez também a melodia.

Guardo o amor aqui dentro da poesia
e a poesia dentro do meu pensamento;
a dor do amor não resiste à alegria,
desfalece ao seu deslumbramento!

Vai poesia, só lhe resta um terceto.
Revela-se a este que lhe escreve
letras de ouro caídas sobre a neve...

Como faço amor fiz este soneto!
Me perdoa se insisto nesse tema,
o amor morre e se eterniza num poema!





       Um dia no sítio

Contemplo o sol despontando na serra
por todo o sempre, como a vez primeira,
cortinas de névoa no ar descerra
nesta manhã alegre de sexta-feira.

O pássaro-preto o gorjear encerra
ao balançar o galho da laranjeira.
É o vento erguendo o cheiro da terra
e deitando suave na mata inteira.

É azul o céu, é verde o escampo!
Desperta a luz, repousa o pirilampo,
flores se abrem exalando seu perfume.

Um galo canta livre no terreiro.
Sigo, no meu passo um cão trigueiro,
entre os bichos, mijo e estrume.





    Minhas horas

Minhas horas não são minhas, são de quem
faz o tempo nessa máquina gigante.
E nestas horas em que existo e sou alguém,
sou a sombra de uma luz no céu distante.

Minhas horas vêm de longe, muito além
das muralhas eternais do mundo errante.
Não sou menos e nem mais do que ninguém
eu sou apenas fragmento do instante,

sou o pó, partícula esmigalhada,
na imensidade cósmica perdida
feita de alma, pele, ossos e mais nada!

Minhas horas são um vulto num espelho
e ao ver quem me guarda minha vida
sinto o chão nas dobras do meu joelho!






      Soneto da saudade

Contigo estou, do meu amor ausente,
já não sou eu quanto em ti eu penso.
Ver o teu vulto dentro da minha mente
é  ver um abismo escuro e imenso,

é dor sem fim no peito de quem sente
gelo vivendo num calor intenso;
é alegria triste, riso descontente,
um corpo sem rumo no ar suspenso...

Contigo estou, vazio de emoções,
olhos ao longe estando aqui tão perto
rastros ao vento n’areia do deserto...

Contigo estou, palco de ilusões,
e vejo que em mim, à luz da verdade,
restou algo do amor... o nome é saudade!





           Imagens

Em minhas mãos eu procuro as suas
e lhas encontro trêmulas de pejo;
pelo espelho nossas imagens nuas
se materializam num só desejo...

Sob os lençóis de fino cetim, duas
bocas se encontram no mesmo beijo;
nossas juras s’encontram pelas ruas
e se elevam aos céus num suave voejo...

Trilhamos as avenidas do prazer,
túneis secretos, sem nada dizer,
e mergulhamos num profundo torpor...

Firo o véu desse corpo imaculado,
nele ficam as marcas do pecado,
e no ar o perfume do nosso amor...

     Inácio Dantas
     Do livro (c) "Janela para o Mar
  
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terça-feira, 15 de março de 2011

Sonetos para uma paixão além da vida...


          Unidade

Quem quer um grande amor tem que dar-se
abrir o peito, mostrar o eu interior,
sem iludir o sentimento num disfarce
-O rosto brilha quando nasce um amor.

O amor é o cais a quem vive a procurar-se,
a lua o farol no apogeu do seu fulgor;
não se rompe, por mais que se esgarce,
é inconsútil qual o talo e a flor.

Está em todos, feito um contágio.
Quem tem, oferece sem revelar o preço,
pois maior que o seu valor é o apreço.

É imensamente forte, por ser frágil,
tem asas longas pra unir alguém distante
e vida eterna mesmo em vão instante!





            Sem amor

Quem não tem amor não sabe o que é
ganhar para si alguém de presente;
sentir da vida renovar a fé
contemplar estrelas, sorrir contente...

Quem não tem amor não sabe o que é
ter o arrepio frio de um beijo quente,
fazer-se um gigante, maior até,
ou um simples grão de areia, de repente...

Quem não tem amor não chora de saudade
erra pelas noites, sem rumo, a esmo,
buscando-se no vazio de si mesmo.

Quem não tem amor vive pela metade
uma parte em luz, a outra em breu,
uma tem vida, a outra já morreu...





       Soneto à Paz

Vamos falar de poesia, não de guerra,
criar nações de poetas, não guerreiros,
espalhar a paz pelos rincões da terra
nas cadeias do amor fazer prisioneiros.

Vamos falar de poesia, não de guerra,
explodir no ar poemas, não morteiros,
declamar o amor, dar o perdão a quem erra,
nos batalhões do bem ser os primeiros.

Vamos falar de poesia, não de ódio,
não ter amor no peito igual jóia num cofre
e se tiver, ter por chave essa estrofe.

Vamos ler o poema quando o amor explode-o
em mil fragmentos no céu do universo
rimando guerra e paz no mesmo verso!





         Espera

No amor não perde tempo quem espera
pois a vida desconta esse instante.
Quem é fugaz não sabe que adiante
sem um minuto não nasce uma era.

Quem se vai, perdido num olhar distante,
não vê no céu o brilho da esfera:
bate asas no fulgor da primavera
de flor em flor, qual um pássaro errante.

Quem foge reescreve seu destino
vive em parábolas de espinho
buscando as mãos tênues do carinho.

Esperar alguém é um dom divino!
Quem não tem ninguém tem a vida apagada
qual a chuva na poeira da calçada...





       Sensações

Entendo que amar é coisa abstrata
está na mente feito pó no ar;
mas, é matéria viva quando ata
duas almas sob as cruzes do altar.

Amar é bom. O corpo sua, a íris se dilata
o desejo queima que nem raio solar;
nasce no peito sem medida exata
e corre no sangue qual ondas no mar...

Amar sãos ossos, músculos em contração,
dois corpos em perfeita simetria
bailando uma estranha melodia...

Nenhum poder atrai quanto essa atração!
Vivemos, quando o amor nos invade
a doce loucura da felicidade!

     Inácio Dantas
     Do livro ® “Sonetos para Sempre” 

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terça-feira, 8 de março de 2011

Sonetos para as mulheres.




          Soneto para Elis
     (A praia por testemunha...)

Abraça-me. Não diga frase alguma.
Deixe que o nosso olhar fale por nós.
Leia os meus pensamentos na espuma
na brisa do mar ouça a minha voz...

Abraça-me. Somos duas vidas em uma.
Pés descalços na areia fria, os dois a sós.
Vamos. O tempo voa igual o vento na bruma
e mais que a asa do tempo nada é veloz!

Ouça a garganta do mar retumbando
lá no seio profundo grita feliz
e, aqui dentro de mim grito Elis! Elis!

Vamos! O véu da noite vive até quando
raiar o dia. Depois, que o sol nos conforte,
que nos una o amor, que nos separe a morte !





       Soneto para Dalva
           (Meu nome)

Não, não... não chamai o meu nome em vão
nem deixai o silêncio vedar-vos a boca;
ouvi o som da minha voz assim meio rouca
não dos meus lábios mas do coração

e senti minha paixão, que não é pouca,
nos transportar para outra dimensão;
e, após nos unir numa mesma emoção
pelo meu amor ficareis cega e louca...

Guardai a tristeza, me chamo alegria!
Vamos tomar do amor o que ele nos deve
na eternidade dessa vida breve!

E quando for vosso meu nome, um dia,
se me derdes o amor que eu vos der
do homem que sou eu vos farei mulher!





               Nova chance

Se seu amor se for tente impedi-lo
faz o coração dizer pra não deixá-lo,
que você vai tentar mudar, isso e aquilo,
esses sentimentos que vêm de estalo...

Diga-lhe com voz calma, ar tranquilo,
quem amou alguém para sempre vai amá-lo;
declame um poema, mostre senti-lo
versos brancos escorrem pelo ralo...

Mostre-lhe ser outro eu quando vê-lo.
Gaste o português, use toda sua verve,
na boca a palavra para o que serve?

Erga seu olhar e transfigure-o num apelo.
De que adianta o amor a dois, amante e amado
e seguirem tristes um pra cada lado?





          Soneto para Eva
                (Oração)

Vou jurar pelos anjos que te adoro
pra ver se Deus ilumina essa paixão
que entrou em mim que nem meteoro
e fez sua morada no meu coração.

Vou beijar tua foto enquanto oro
deixando-me tomar a sublimação.
Ergo o meu pensar num gesto sonoro
e te troco por Deus na minha oração.

Rezo aos santos, teu anjo da guarda,
pra que te guarde do mal inclemente
e te dê o ar da vida eternamente.

A primavera de nós dois já não tarda
e tão grande quanto Roma odiou Nero
quero te querer mais do que me quero!





         Soneto com classe

Quero que este poema tenha classe
e traga aos amantes a emoção perdida;
que diga o amor, esse amor que não desfaz-se
e brilhe no olhar que nem prata polida.

Que tenha carne, sangue, corpo e face
e de qualquer soberba a alma despida;
que seja uma flor bela quando nasce
e na rima dos meus versos tenha vida;

que possa ser ouvido num som mudo
e na treva do silêncio projetado
e na véspera do beijo declamado.

E possa em poucas letras dizer tudo
e no coração dos que amam ser modelo
e fique para sempre nos olhos de quem lê-lo !





     Soneto para Fabíola
   (Existe um livro de nós dois)

Arranquei a página da nossa história
meu último elo de recordação.
Lutei com a lembrança, luta inglória,
e te apaguei de vez do meu coração.

Lutei! Mas não ficou branca a memória
deixei sinais, qual as linhas da mão.
Ficaram coisas, nuvem incorpórea
que vem e volta igual chuva de verão...

Lutei comigo. Foi luta perdida!
Gladiei em vão com o meu próprio ser
não queria ser vencido nem vencer.

Falta essa folha no livro da vida,
que, nas asas da saudade, volta e meia,
recola-se no lugar que arranquei-a...

    Inácio Dantas
    Do livro © “Janela para o Mar” 

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