(A praia por testemunha...)
Abraça-me. Não diga frase alguma.
Deixe que o nosso olhar fale por nós.
Leia os meus pensamentos na espuma
na brisa do mar ouça a minha voz...
Abraça-me. Somos duas vidas em uma.
Pés descalços na areia fria, os dois a sós.
Vamos. O tempo voa igual o vento na bruma
e mais que a asa do tempo nada é veloz!
Ouça a garganta do mar retumbando
lá no seio profundo grita feliz
e, aqui dentro de mim grito Elis! Elis!
Vamos! O véu da noite vive até quando
raiar o dia. Depois, que o sol nos conforte,
que nos una o amor, que nos separe a morte !
Soneto para Dalva
(Meu nome)
Não, não... não chamai o meu nome em vão
nem deixai o silêncio vedar-vos a boca;
ouvi o som da minha voz assim meio rouca
não dos meus lábios mas do coração
e senti minha paixão, que não é pouca,
nos transportar para outra dimensão;
e, após nos unir numa mesma emoção
pelo meu amor ficareis cega e louca...
Guardai a tristeza, me chamo alegria!
Vamos tomar do amor o que ele nos deve
na eternidade dessa vida breve!
E quando for vosso meu nome, um dia,
se me derdes o amor que eu vos der
do homem que sou eu vos farei mulher!
Nova chance
Se seu amor se for tente impedi-lo
faz o coração dizer pra não deixá-lo,
que você vai tentar mudar, isso e aquilo,
esses sentimentos que vêm de estalo...
Diga-lhe com voz calma, ar tranquilo,
quem amou alguém para sempre vai amá-lo;
declame um poema, mostre senti-lo
versos brancos escorrem pelo ralo...
Mostre-lhe ser outro eu quando vê-lo.
Gaste o português, use toda sua verve,
na boca a palavra para o que serve?
Erga seu olhar e transfigure-o num apelo.
De que adianta o amor a dois, amante e amado
e seguirem tristes um pra cada lado?
Soneto para Eva
(Oração)
Vou jurar pelos anjos que te adoro
pra ver se Deus ilumina essa paixão
que entrou em mim que nem meteoro
e fez sua morada no meu coração.
Vou beijar tua foto enquanto oro
deixando-me tomar a sublimação.
Ergo o meu pensar num gesto sonoro
e te troco por Deus na minha oração.
Rezo aos santos, teu anjo da guarda,
pra que te guarde do mal inclemente
e te dê o ar da vida eternamente.
A primavera de nós dois já não tarda
e tão grande quanto Roma odiou Nero
quero te querer mais do que me quero!
Soneto com classe
Quero que este poema tenha classe
e traga aos amantes a emoção perdida;
que diga o amor, esse amor que não desfaz-se
e brilhe no olhar que nem prata polida.
Que tenha carne, sangue, corpo e face
e de qualquer soberba a alma despida;
que seja uma flor bela quando nasce
e na rima dos meus versos tenha vida;
que possa ser ouvido num som mudo
e na treva do silêncio projetado
e na véspera do beijo declamado.
E possa em poucas letras dizer tudo
e no coração dos que amam ser modelo
e fique para sempre nos olhos de quem lê-lo !
Soneto para Fabíola
(Existe um livro de nós dois)
Arranquei a página da nossa história
meu último elo de recordação.
Lutei com a lembrança, luta inglória,
e te apaguei de vez do meu coração.
Lutei! Mas não ficou branca a memória
deixei sinais, qual as linhas da mão.
Ficaram coisas, nuvem incorpórea
que vem e volta igual chuva de verão...
Lutei comigo. Foi luta perdida!
Gladiei em vão com o meu próprio ser
não queria ser vencido nem vencer.
Falta essa folha no livro da vida,
que, nas asas da saudade, volta e meia,
recola-se no lugar que arranquei-a...
Inácio Dantas
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