quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sonetos para um único amor!



         Quem diz...

Quem diz saber tudo do amor, mente,
frase sem alma ao vento jogada.
O amor é um mundo dentro da gente
quem diz saber tudo, não sabe nada.

Quem nunca teve um amor é doente
vive sem brilho, é chama apagada.
O amor tem mil caras, e uma somente,
há de seguir-nos na longa jornada.

Quem ama entre os braços faz um ninho
dorme em nuvens no leito d´alvorada
colhe sonhos no seio da mulher amada.

Na multidão, quem não tá sozinho,
vai, disfarçando risos nos olhos baços
e um abismo se abrindo nos seus passos...





           Amor e ódio

Já não sei se te amo ou te odeio
estou dividido feito rio e mar.
Creio em tudo, só em mim não creio,
ódio é o meu jeito louco de amar.

Agora vivo uma vida pelo meio
e sem razão nenhuma pra sonhar.
Se já não tens meu calor no teu seio
Oh Deus, tenho mil razões pra chorar.

Tenho no peito uma paixão d´estanho
que não se verga nem na própria dor
mas se derrete no fogo do amor...

Por que tenho por ti esse amor estranho
qual se quisesse matar de repente
e, morta, dar-te vida novamente?!...





    Amor se escreve com “M”

Falo-te desse amor dentro de mim
que por ser imenso lhe deu o teu nome,
que quanto mais velho mais longe o fim,
que arde em chama e não se consome.

É uma dor que dói, mas não é ruim,
que deixa uma ferida quando some.
E quando bate n´alma um amor assim
fremem os lábios, o corpo sente fome...

Fato-te ainda coisas de nós dois,
mentiras que trocamos por verdades,
lembranças que entre nós eram saudades.

-Ó nave do tempo, o que vem depois?
Ah, vamos fugir desses desenganos
e fazer amor como aos vinte anos...






       Eu e o poema

Já nem me lembro quando fiz este poema
papel caído no fundo do armário.
Se muito amei, hoje sofro num dilema
faço dos versos meu amor imaginário.

Perdi alguém por uma razão extrema
morreu em mim o poeta visionário.
Ter tanto amor foi o “x” do meu problema
ganhei os céus, mas meu voo é solitário.

Ouço a solidão, uma voz sem dialeto,
e no silêncio, meu peito barulhento,
me traz ilusões ao meu entendimento.

Estou só se não estou neste soneto!
Fecho a rima, e num toque de magia,
vejo o amor pelos olhos da poesia!





         Flerte

Nobre é a doçura do teu encanto,
gestos, voz suave, plácido sorriso.
São tantas razões que te quero tanto
um mundo de coisas que eu preciso.

Teu nome tá na letra que eu canto
me sai dos meus lábios num improviso;
entras em meus sonhos, e pra meu espanto,
encontro em teus braços meu paraíso!

A ninguém dou esse amor que quero dar-te.
Te encontro no olhar que me procura
no meu jardim, uma flor de formosura:

contemplo o teu corpo feito em arte
e deixo meu coração aberto em flerte
numa doce ilusão que posso ter-te...








          Reconciliação

Um nó no peito, eu meio sem cabeça,
pra lembrá-la se nem lembro de mim...
Ouça-a bem perto, “não me deixe assim”
outra voz me diz “esqueça, esqueça...”

Vivo num dilema que não tem fim
entre a luz e a noite espessa:
ela quer amor antes que adormeça
balbucio um “não”, coração diz “sim”...

Nos juntamos, feitos duas metades.
Acordado, finjo estar dormindo,
corpo ardendo num tesão infindo...

Mas suas mãos, fazedoras de vontades,
me bolinam, vão aquecendo o clima,
ora vem por baixo, ora vem por cima...


     Inácio Dantas
     do livro ©  “Sonetos para Sempre”

     Temas relacionados (Sonetos para as mulheres):

     Temas complementares (O amor chegar...):

     Temas afins (La paz... Em espanhol):

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Dez sonetos para relax da alma.




               Só

Não estou só... tenho caneta, caderno
e no seio d'alma a inspiração.
Se lá fora o mundo vive um inferno,
aqui dentro vivo a letra da canção.

Sou poeta! É sempre sol o meu inverno,
uma chama acesa o meu coração.
Se ainda é o amor um sonho eterno
minha poesia não vai morrer então!

Sim, não estou só. Tenho a poesia
e a verve de poeta me acompanha,
vive em mim numa emoção estranha,

e se compraz na mais doida ironia:
-Me faz rir se o pranto não desfaz-se
 ou cantar se há dor em minha face...




            Lágrimas

Lágrimas em chuva me caem do rosto
amar e não sofrer são tarefas árduas.
Num colar de gotas do meu desgosto,
perlas do meu pranto, uma a uma guardo-as.

Lembrança... da sua língua sentir o gosto,
e suas mãos, loucas por mim aguardo-as...
Se viver é alegria vivo o oposto:
-Amar e não sofrer são tarefas árduas...

Colho, hoje, o fel da boca que beijei
o abraço frio do seu corpo ausente
luz no passado, sombra no presente.

Desafio a solidão, mundo sem lei,
e vivo assim - minhas razões resguardo-as-:
-Amar e não sofrer são tarefas árduas...!





             Assovio

Noite sem lua, brisa calma do Atlântico,
luz dos meus olhos alumia a praia escura.
Eu danço nas ondas, ao mar em cântico,
sob a treva flutuando na brancura.

Ouço o meu peito, seu falar semântico,
eu e o firmamento – Criador e criatura -.
Vivo, com a solidão, um par romântico,
feito o mar suave com a pedra dura...

Noite sem lua, erma, névoa de plumas
vai cobrindo a tez do mar n´amplidão
reino dos deuses, Iemanjá, Tritão...

Sigo, pés descalços num chão d´espumas,
e, enchendo a curva do céu vazio,
dos meus lábios, uma canção num assovio...







          Divisão

Quem é este eu que ‘stá em mim agora
em quem me fiz por estar desatento?
Pra ser quem sou não se faz na hora
se precisam anos de ensinamento.

Quem é esse em mim se sou eu por fora
ou seremos um no mesmo momento?
Se não é ele, eu, por que me ignora
e quer pensar por mim no meu pensamento?

Afinal, qual dos dois é ele, qual sou eu?
Não por mim, mas por ele com tal zelo,
pois se eu sou ele como hei sabê-lo?!

Nutro, assim, a dúvida que me nasceu:
-Deus, como dividir dentro da gente
o ser real e o sub-consciente?






          Náufrago

Ninguém te amou de uma forma intensa
senão eu. Me clareava, de amor cego,
a luminosidade da tua presença.
-Te amei bem mais que as outras, não nego.

Sentia teu amor em mim, era uma doença,
febre que ardia e me polia o ego.
Hoje, dobro no véu da saudade imensa
os cacos que amor que ainda carrego.

Se te dei meu amor, o que em mim contém?
Recordações, resquícios do passado,
cristal puro em vão despedaçado...

Vou-me, tem um barco nas águas do ontem,
céus do além, ondas do tempo transpor,
até achar o mar onde naufragou o meu amor...







             Perdão

Qual de nós vai renunciar ao amor
e cair em pranto, e embargar a voz,
e morder os lábios para sentir dor,
e dizer “Adeus”? Qual de nós, qual de nós?

Qual de nós o beijo já não tem sabor
e atira a pecha no tempo algoz?
Se os laços já não atam com vigor
dizei qual de nós vai quebrar os nós?

Qual de nós vai ironizar, fechar a cara,
e olhar pro outro em direções opostas,
e partir sem rumo ao virar as costas?

Ou, qual de nós, numa atitude rara,
vai erguer-se  (Serei eu, sereis vós?)
e dizer “Perdão”? Qual de nós, qual de nós?!







            Destino

Três apitos, dentro do subconsciente,
sai do meu peito o trem do meu destino.
O trilho é a vida, o tempo o dormente,
ergue voo qual um carrossel divino.

Vejo-o girar e luzir à minha frente
qual áurea luz dum anjo paladino.
Me abre portas, num mundo indiferente,
me faz rei, feito sonho de menino.

Levo-o comigo, por ele sou levado,
e se me assoma a mais erma solidão
sinto arrancá-la o poder da sua mão.

Vou segui-lo, uma sombra ao seu lado,
até ver, dessa força que me conduz,
sobre o meu corpo o símbolo da cruz!






             Momento...

Ainda te lembras da prata da lua,
luz brilhante feito joia de ciganos,
a guiar-nos, sombras claras pela rua,
eu,  você...? Quantos planos, quantos planos!

O mar reluz, qual espelho, a deusa nua
ondas longas a levar meus verdes anos.
Ah, essa lua... Raios do céu na pele tua
eu, você...  Quantos planos, quantos planos!

Ainda te lembras das nuvens de seda
da esfera acesa em noites belas
qual nódoa branca num manto d´estrelas?

Da areia ao vento no chão d’alameda,
peito aberto, já findava dezembro,
eu, você...  Não te lembras? Eu me lembro!








          Soneto à Bahia

Boa noite lua! Bom dia sol da manhã!
Ouço a canção do mar na brisa quente.
Salvador me abraça num dia louçã
e  eu o abraço na mesma vertente.

Itaparica, uma ilha num talismã
caída do céu numa ‘strela cadente.
Que divinal, da Lagoa a Itapuã,
a beleza não cabe nos olhos da gente!

Séc´los de alegria nas ruas do Pelô,
livros de Amado, o toque do agogô
num desfile de arte e fantasia.

Do Elevador vejo a Cidade Baixa,
abro os braços, e sinto que se encaixa,
no meu peito o coração da Bahia!









          Infância

(À minha mãe, Edith Dantas)

Alegra-me relembrar inda criança,
à tarde o sol ao longe, já sem brilho,
minha mãe, imagem viva na lembrança,
cabelo preso, laço no fitilho,

levava meu nome à brisa mansa
naquela voz que a mãe chama seu filho.
Eu corria no meu mundo d´esperança
escutando sua voz num estribilho.

E a noite, tinta negra derramada,
escorria no cariz do céu distante
e ia apagando a tocha luminante.

E os vultos eram bichos na estrada!
Mãe, eu fugia com o medo nos meus passos
e já sem fôlego eu caía nos seus braços!

     Inácio Dantas
     (do livro © “Sonetos para Sempre”)

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   Temas complementares (Filosofia em espanhol)

  Temas afins (Relacto. Casais):

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sonetos de amor, vida e meditações



           Rumo ao sol...

Dia, não me deixe; noite, não me leve
na sua asa de treva, fria, sem matéria.
Tive o manto real, o véu da miséria
e a eternidade numa vida breve.

Ó noite que se esvai na luz sidérea
um dia dos meus dias não me deve.
Dê-me a cruz negra, sudário de neve,
um beijo sem cor da boca cinérea...

Leva-me nas águas turvas do seu mar.
Sob as ondas das nuvens, meu conforto,
terra, terra... cais da vida, o meu porto.

Do meu céu vai a estrela se apagar!
Ó noite imensa, do meu viver o dia, leva
e outra luz há de surgir na minha treva!



  
         Eu-estrela

Eu vi minha alma naquele sol
sol da minha vida aberto em flor;
vi a aurora do meu ser num arrebol
e não me coube nos olhos o esplendor.

Vi o meu futuro nascer num parol
ao brilho da lua num mundo sem cor,
rompia o espaço na luz de um farol,
o próprio olho de Deus, o Criador.

Vi os meus dias surgindo nos astros,
sua claridão seguindo meus rastros
até se perderem na poeira do nada...

No pano azul, ao som de clarins e banjos,
vejo-me quem sou num bando de anjos:
-Uma estrela no céu da madrugada!




           Veredicto

Não julgue, se julgar-lhe não quiser,
a dúvida é prostituta da verdade.
Nem condene por uma razão qualquer:
Um rei s’esconde sob o véu da piedade.

É assim o homem, tudo tem e tudo quer
vive polindo o ouro da vaidade.
É réu, juiz, como bem lhe convier:
faz a guerra em nome da liberdade.

Não julgue à brisa tênue da razão.
Se a dúvida punir, seja quem for,
amanhã Deus virá julgar o julgador.

Quem diz a sentença também diz o perdão.
Que a lei é igual, de que vale a premissa,
se é feito de erros o sabre da justiça?!





        Amor eterno

Olhai as chagas no meu peito enfermo
o coração exangue nitrindo em mim,
o calar do meu corpo, o silêncio ermo,
o sopro aos poucos chegando ao fim...

Olhai na matéria essa vida sem termo
que quando viva não fora ruim.
Depois, num adeus eterno envolvermo-
nos, brisa leve de uma paz marfim.

Riscai o meu nome do mundo dos vivos!
Todos hão de saber que vos amei tanto
e se não me amastes não sei os motivos...

Dentro da cripta, com todo fragor,
vosso nome hei de chamar em pranto
para que saibam que morri de amor!




                   Retorno

Eis-me aqui a vislumbrar essas colinas,
o orvalho recobrindo o meu passo,
ruas longas, tortuosas, sem esquinas,
nuvens claras se abrindo no espaço.

O vento frio dobra a relva das campinas
num horizonte feito a régua e compasso.
A lua deita-se... o sol ergue as cortinas,
o dia em luz me envolve num abraço.

Sigo, vulto estranho na paisagem,
no ar, sinto o cheiro da madrugada,
na boca o gosto de folha mascada.

Voltei, nada levei na longa viagem,
pois o que deixei naquela choupana
ficou no peito da minha serrana.




             Linda

Ah, és maravilhosamente linda
no teu corpo a beleza é perfeita,
dos deuses na terra foste a eleita
neste mundo imperfeito: bem-vinda.

Do teu rosto fulge u'a luz infinda
resplandece da magia que és feita;
teu andar se alarga em rua estreita
pois beleza maior ninguém viu ainda.

Qual textura produziu tua matéria?
És filha da lua, d' amplidão sidérea
ou um sol no horizonte do meu verso?

Maravilhosamente linda és,
que, quando ergues o semblante, a teus pés
deita-se o céu... e o próprio universo!




  
          Broquel

Levanta-te, guerreiro destemido,
livra teu elmo do ígneo melaço,
zimbra ao vento teu gládio brunido
talhado de mortes no fio do aço.

Arranca o arnês, do alazão o baraço,
despoja a flâmula, o brasão florido.
Teu sangue tingiu o chão, o espaço,
perdeste a luta e não foste vencido.

Olha em ti o corpo exangue, dê-lhe ombros.
Tuas vestes são farrapos da batalha,
mas, antes isso que a vida na mortalha.

Levanta-te desse mundo de escombros!
Se a paz é um sonho imemorial
põe-la no teu mais alto pedestal!




       Uma canção

Compus esta canção para nós dois
o poema pousou na pauta do papel,
cifrei a letra: "quem vos fui, quem me sois;
vos fui dor e fel; me fostes riso e mel"

Cantei-a no silêncio que se fez, pois
quem reza aos anjos alcança o céu.
E antes de ouvir o que houve depois
dei-vos minha música e o meu anel...

Cantai. Nos fez o mundo o que somos nós.
Canto assim, pra não revelar meu pranto
e prá esconder-vos que vos amo tanto.

Eis, no ar, a orquestra da minha voz:
O som tem brilho e cor, o ritmo harmonia,
os versos têm calor, a rima poesia!

    Inácio Dantas
    (do livro © “Sonetos para Sempre”)

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