Quem diz...
Quem diz saber tudo do amor, mente,
frase sem alma ao vento jogada.
O amor é um mundo dentro da gente
quem diz saber tudo, não sabe nada.
Quem nunca teve um amor é doente
vive sem brilho, é chama apagada.
O amor tem mil caras, e uma somente,
há de seguir-nos na longa jornada.
Quem ama entre os braços faz um ninho
dorme em nuvens no leito d´alvorada
colhe sonhos no seio da mulher amada.
Na multidão, quem não tá sozinho,
vai, disfarçando risos nos olhos baços
e um abismo se abrindo nos seus passos...
Amor e ódio
Já não sei se te amo ou te odeio
estou dividido feito rio e mar.
Creio em tudo, só em mim não creio,
ódio é o meu jeito louco de amar.
Agora vivo uma vida pelo meio
e sem razão nenhuma pra sonhar.
Se já não tens meu calor no teu seio
Oh Deus, tenho mil razões pra chorar.
Tenho no peito uma paixão d´estanho
que não se verga nem na própria dor
mas se derrete no fogo do amor...
Por que tenho por ti esse amor estranho
qual se quisesse matar de repente
e, morta, dar-te vida novamente?!...
Amor se escreve com “M”
Falo-te desse amor dentro de mim
que por ser imenso lhe deu o teu nome,
que quanto mais velho mais longe o fim,
que arde em chama e não se consome.
É uma dor que dói, mas não é ruim,
que deixa uma ferida quando some.
E quando bate n´alma um amor assim
fremem os lábios, o corpo sente fome...
Fato-te ainda coisas de nós dois,
mentiras que trocamos por verdades,
lembranças que entre nós eram saudades.
-Ó nave do tempo, o que vem depois?
Ah, vamos fugir desses desenganos
e fazer amor como aos vinte anos...
Eu e o poema
Já nem me lembro quando fiz este poema
papel caído no fundo do armário.
Se muito amei, hoje sofro num dilema
faço dos versos meu amor imaginário.
Perdi alguém por uma razão extrema
morreu em mim o poeta visionário.
Ter tanto amor foi o “x” do meu problema
ganhei os céus, mas meu voo é solitário.
Ouço a solidão, uma voz sem dialeto,
e no silêncio, meu peito barulhento,
me traz ilusões ao meu entendimento.
Estou só se não estou neste soneto!
Fecho a rima, e num toque de magia,
vejo o amor pelos olhos da poesia!
Flerte
Nobre é a doçura do teu encanto,
gestos, voz suave, plácido sorriso.
São tantas razões que te quero tanto
um mundo de coisas que eu preciso.
Teu nome tá na letra que eu canto
me sai dos meus lábios num improviso;
entras em meus sonhos, e pra meu espanto,
encontro em teus braços meu paraíso!
A ninguém dou esse amor que quero dar-te.
Te encontro no olhar que me procura
no meu jardim, uma flor de formosura:
contemplo o teu corpo feito em arte
e deixo meu coração aberto em flerte
numa doce ilusão que posso ter-te...
Reconciliação
Um nó no peito, eu meio sem cabeça,
pra lembrá-la se nem lembro de mim...
Ouça-a bem perto, “não me deixe assim”
outra voz me diz “esqueça, esqueça...”
Vivo num dilema que não tem fim
entre a luz e a noite espessa:
ela quer amor antes que adormeça
balbucio um “não”, coração diz “sim”...
Nos juntamos, feitos duas metades.
Acordado, finjo estar dormindo,
corpo ardendo num tesão infindo...
Mas suas mãos, fazedoras de vontades,
me bolinam, vão aquecendo o clima,
ora vem por baixo, ora vem por cima...
Inácio Dantas
do livro © “Sonetos para Sempre”
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