Soneto Vivo
Por arma a caneta, poemas por batalha,
exército de palavras em desafio.
Vestidas de azul, pelotão ao meio fio
letra a letra vão erguendo a muralha
sólida, forma e cores no vazio.
É poesia - pó do amor que se espalha -.
Sangue azul cingindo a mortalha
branca, sombra e luz num só perfil.
Amar sem poesia é viver sem ideal
é fazer-se náufrago em onda calma
é renegar um sonho imemorial.
Rima e verso, corpo e esqueleto.
-Deus, só falta espírito e alma
para ter vida este soneto!
Alarme
O que fazer, se és toda em zelo,
se há em ti um ser que alucina?
Se me é teu amor luz que descortina
então que seja meu se posso tê-lo!
No calor espesso, penumbra fina,
sorris, e tentas o rosto escondê-lo.
Ei-la. Vejo-te nua a olhar-se em pelo,
coisas de mulher, corpo de menina...
Clarão da lua, estrela do teu lume,
nos teus olhos verdes a apunhalar-me
me entra na alma sem fazer alarme;
palavras doces, cheias de perfume,
meu corpo frágil, teu abraço firme,
boca a beijar-me, mãos a seduzir-me...
Pensar em ti...
Só em ti pensar ainda me resta
e ouvir o que a minha língua fala;
as palavras, minha mente em festa,
ecoam música qual noite de gala.
Te desenho em mim sem franzir a testa
mas, tua imagem deixo a névoa apagá-la;
eis que não é nosso o que nos empresta
assim como é do sol o brilho da opala.
Penso... No ar teu vulto transfigura,
tua forma se transforma em obra pura
e a posse do teu corpo a mim proclamo.
Penso em ti... Mas teu amor eu não tenho
ele só tem vida quando te desenho
e tua voz escuto a dizer: “Te amo”...
Inácio Dantas
(do livro ® “Sombras e Luzes”)
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