Pesadelos...
Erga-se, dobre a força, atire a lança
nesse demônio que ruge à sua frente,
fira o peito se a alma não alcança
corpo de anjo, cauda de serpente.
É o monstro que se aloja na lembrança
e devora a visão clara da sua mente;
sonho... monstro banal de toda gente,
nau sem rumo no mar da esperança.
Se arme até os dentes pra sonhar
ou um dragão toma forma e se alumbra
e o leva pras entranhas da penumbra...
É bravio, mas não desista sem lutar,
mate-o, só quem o fez pode vencê-lo,
ou ele voltará n´outro pesadelo...
Eu-estrela
Eu vi minha alma naquele sol
sol da minha vida aberto em flor,
vi a aurora do meu ser num arrebol
não me coube nos olhos o esplendor.
Vi o meu futuro nascer num parol
ao brilho da lua num mundo sem cor,
rompia o espaço na luz de um farol,
o próprio olho de Deus, o Criador.
Vi os meus dias surgindo nos astros,
sua claridão seguindo meus rastros
até se perderem na poeira do nada...
No pano-azul, ao som de clarins e banjos,
vejo-me quem sou num bando de anjos:
-Uma estrela no céu da madrugada!
Ilusão
Ante os meus olhos são os teus mais belos
que o clarão do sol no seu esplendor.
Deus, negar-me a visão desse fulgor
é ter meus olhos num espelho e não vê-los!
O sol é flor em chamas nos teus cabelos
pétlas que ao cair mudam de cor.
Teu sorriso tem do ouro o valor,
ter teus lábios sem um beijo é não tê-los!
Teu corpo... barco no mar da paixão.
Vejo-o, se ele não vir-me vou perdê-lo
na paisagem de penumbra e gelo...
Teu amor é a chave da minha prisão!
Mas, prefiro sofrer por te perder
que pela ilusão que te posso ter...
Lembrar-te...
Lembrar-te é ver renascer o amor
não que morreu, só ficou adormecido;
mar letárgico, ondas de torpor
lembrança que não hei esquecido.
Lembro-me que te amei, com tal fervor
que nasci de novo sem ter morrido;
guardei no silêncio ecos de clamor
teu nome de saudade revestido.
Lembrar-te é unir tempo e espaço
abrir as asas longas da imaginação
voar num desejo pleno de emoção.
Agora, lembrar-me é tudo que faço:
vens em sonhos, e por mais que não olhe-os
vejo sorrir tua cara nos meus olhos!
Lustre
Eis a lua, ornada da própria beleza
em torrentes de um níveo fulgor,
veste de nudez o corpo de princesa
qual saído das telas de um pintor.
No céu da noite, astros já sem cor
mergulham num breu de imensa largueza.
Vem o dia. Eis o sol, cascata d'esplendor
qual u´a gigantesca lâmpada acesa!
Colho-os na mina dum olhar radiante,
gema rúbea, pérola coruscante,
e guardo, nas mãos em cofre, o meu tesouro;
transponho o ar com o punho firme
vou, de áureas estrelas nutrir-me,
e beber a prata da lua em taças de ouro!
Inácio Dantas
Do livro (c) “Sonetos para Sempre” Temas relacionados (Autoajuda):
Temas complementares (Meditações):